sexta-feira, 12 de julho de 2013

na trilha do lobisomem


 Desde pequeno gostava de filmes, livros e historias de terror. Ainda criança, eu, minha irmã e primos nos reuníamos em volta dos mais velhos para ouvi-los contar suas histórias. Verdade ou não elas serviam para nos deixar apavorados e íamos dormir com aquela sensação de alerta. Onde qualquer barulho nos chamava a atenção deixando nossa imaginação identificar a sua origem. Seriam os sons noturnos causados por alguma entidade sobrenatural? Ou eram apenas grilos, cães e o vento nas árvores? Quando estamos assustados qualquer som nos parece aterrorizante, né?
Abaixo vou tentar narrar um conto ouvido na minha infância e, segundo os meus familiares, ocorrido com meu avô.
Vitor tinha ido até o seu vizinho participar de um mutirão para a construção de um celeiro. O tempo para concluir a tarefa acabou se alongando mais que o esperado e a escuridão avançou rápido. Terminado o serviço do dia e depois de algumas conversas todos seguiram por caminhos diferentes rumo às suas casas.
Era uma noite de lua cheia e apesar de sua luz ajudar a clarear o caminho, criava sombras assustadoras na mata. Vitor caminhava por uma trilha com um pequeno lampião na mão, que o ajudaria a avistar alguma cobra no caminho, e um facão na outra mão para sua proteção. Como era uma região serrana a neblina se formava lentamente tornando a paisagem mais fria e sinistra.
Acostumado com a vida da roça, Vitor caminhava indiferente à situação, porém atento aos sons da mata. Quando estava próximo de casa escutou um barulho não muito longe dele. Pareceu ser um rosnado. Se concentrou na sua audição tentando adivinhar de que lado viria aqueles ruídos. O que poderia ser? Talvez algum cachorro do mato. Acelerou seus passos e apertou o cabo do facão para se sentir mais seguro. Novamente ouviu o rosnado de um bicho, desta vez mais alto, era como se aquilo estivesse mais próximo. Continuou caminhando quando avistou um vulto negro pular na trilha logo a sua frente. Como defesa colocou as duas mãos para frente com o facão em posição ofensiva e o lampião iluminando a criatura .
Viu algo que nunca havia visto antes. Uma espécie de cachorro muito grande, sua boca se abria ameaçadoramente mostrando presas afiadas. O seu corpo era coberto de pêlos negros e suas patas eram grandes como as de um urso. A criatura babava, rosnava e avançava em sua direção. Vitor desceu o facão e acertou a orelha do bicho que ganiu e recuou para a lateral da trilha. Os sons que ela emanava pareciam ser coisa de outro mundo. Gemidos horríveis. Recuperado do choque inicial, começou a correr pela trilha. Correu o mais que pode até chegar em casa. Abriu a porta e a trancou procurando imediatamente pelo rifle que possuía.
Sua esposa levantou e veio ver o que estava acontecendo. Ao olhar para o seu marido viu o terror estampado em seus olhos. Perguntou o que estava acontecendo e Vitor disse que uma coisa ruim havia cruzado o seu caminho, mas que tinha lhe arrancado uma orelha. Lá fora, ao longe , ainda ouvia-se os ganidos e rosnados. Ficou atento próximo a porta dizendo que se a criatura quisesse entrar iria estourar a sua cabeça. A mulher se agarrou a um crucifixo e ajoelhada pôs-se a rezar. Aos poucos os ganidos cessaram e ao que parece o bicho foi embora.
No dia seguinte Vitor e sua esposa foram até os seus vizinhos perguntar se também haviam visto ou ouvido algo estranho na noite anterior e para sua surpresa, encontraram um deles com um estranho curativo na região da orelha... Parecia que um pedaço dela havia sido decepada. Rumores correram dizendo que aquele velho solitário era um lobisomem.

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