quinta-feira, 18 de julho de 2013

O MOÇO DO VENTO - parte 4 - final


Quando o dia amanheceu, Jonas e Carla abriram os olhos anunciado um delicioso despertar. Ao mesmo tempo a luz matinal tocava seus rostos com suavidade. O calorzinho daquele momento era tão bom que os “obrigou” a permanecer mais alguns minutos na cama. Porém o estômago deles começou a reclamar do vazio. E um bom banho iria ajuda-los a despertar e jogar a preguiça de lado.
Carla adiantou-se e, após o banho, preparou um delicioso café da manhã. Fez torradas, enfeitou a mesa com vários tipos de geleias, frutas, sucos e outras delícias. Em seguida ela e Jonas se reuniram diante da mesa. Estavam tão felizes com a nova casa que não queriam estragar aquela manhã mágica.
Carla, novamente, adiantou-se e disse em voz alta:
—Cristiane, o café está na mesa!
Silêncio total.
Carla tentou novamente;
—Filha, acorde! Deixe de preguiça e desça dessa cama!
Silêncio.
Carla sentiu que alguma coisa estava errada, pois sempre ouviu a resposta da filha pela manhã.
Preocupada ela diz;
—Que estranho! Por que será que ela não está respondendo?
—Ora, querida! —disse Jonas sorridente— Ela só deve estar num sono profundo! Nada mais! Daqui a pouco ela desce.
—Não! Ela sempre me respondeu! —disse Carla com um ar de ansiedade e nervosismo na voz.
—Querida, por favor, vamos comer...
—Desculpe, Jonas, mas vou lá em cima para ver o que está acontecendo.
Conformado ele diz:
—Tudo bem! Tudo bem! Vou lá com você.
Subiram as escadas rapidamente com a iniciativa de acordar a filha logo para que ela pudesse aproveitar os primeiros dias de férias.
Ao abrir a porta eles têm uma surpresa. A cama estava feita e não havia nenhum vestígio de que a menina tivesse dormido ali naquela noite.
Jonas, agora, começava a ficar preocupado.
—Ué! Cadê Cristiane?
—Não sei! —disse Carla começando a se desesperar— Eu disse que estava tudo muito estranho. Agora vamos procurar por ela pela casa, senão não terei sossego.
—Vamos olhar os outros quartos! Talvez ela tenha dormido em outro...
Correram por todos os cômodos do imenso casarão. Alguns ainda com algumas teias de aranha pelas paredes e objetos antigos que decoravam o ambiente. Procuraram, então, na cozinha, na sala, na biblioteca, no porão, no sótão, pelo jardim e em toda a extensão da propriedade que puderam vasculhar. Aquela situação havia se tornado muito estranha para eles, deixando-os com um desespero incontrolável, acompanhados da respiração ofegante, que demonstrava todo o remorso ao se lembrarem de Cristiane caindo pelas escadas e sussurrando sobre a mudança de sua decisão em não ir para a mansão.
Cansados, desesperados e tristes, decidiram voltar para o quarto e usar o telefone para ligar para a polícia. Naquele local não pegava sinal de celular ou qualquer outra frequência que não fosse por meio de fios. Era como se a energia dali bloqueasse o mundo externo.
Ao abrirem a porta do quarto eles têm uma surpresa: Cristiane encontrava-se de pé e virada para a janela do quarto, como se os estivesse observando o tempo todo em que a procuravam. Ela estava imóvel e não demonstrava nenhuma surpresa com a chegada dos pais.
—Filhinha —disse Carla— que susto você nos deu! Onde estava enquanto te chamamos?
Nenhuma resposta.
—Filha —disse Jonas— sua mãe está falando com você!
Silêncio total. Nenhum movimento.
Carla decidiu se aproximar da filha. O nervosismo voltava a tomar conta dela ao mesmo tempo em que suas mãos começavam a suar.
—Menina, estou falando com você! —gritou Carla já nervosa.
Tocou o ombro de Cristiane, virando-a para si. Então uma expressão de horror dominou seu rosto. A menina não parecia humana. Esta, por sua vez, fixou seu olhar branco e gélido para a mãe e o pai. Nos olhos não havia mais íris e pareciam ter a profundidade de um universo sem fim, obscuro e terrível. Então Carla percebeu que sua linda filhinha não existia mais. Os demônios a haviam transformado em mais uma escrava  da tenebrosa e isolada mansão.

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