quinta-feira, 18 de julho de 2013

O MOÇO DO VENTO - parte 3


Após o jantar cada um seguiu para seu quarto, pois haviam ficado cansados depois toda aquela maratona turística pelo jardim do velho casarão.
Enquanto Carla e Jonas “estreavam” a cama de casal, a pequena Cristiane, assustada e desconfiada até da própria sombra, recolheu-se embaixo dos lençóis, enquanto mantinha as luzes acesas, pois não queria sentir medo naquela noite.
O antigo relógio cuco de madeira, com idade já centenária, marcava 12:30h. Já havia passado da hora de Cristiane se deitar. Mas o disparo do coração, acompanhado do suor ansioso nas mãos e nos pés, além da respiração ofegante, tornaram-se propícios para a repetição de uma cena que já não acontecia há muito tempo.
A névoa densa e gélida começou a penetrar pela janela, que se abriu com extrema violência à medida que o vento penetrava fortemente no quarto. Cristiane mantinha-se agarrada ao travesseiro. Assustou-se com o barulho da madeira ao bater estrondosamente na parede do seu quarto. E ela sabia que aquele sinal não era uma coisa boa. Por isso decidiu se conformar e aceitar o que o destino lhe aguardava.
No meio do quarto uma figura nada amistosa foi se formando. Sua aparência era completamente demoníaca e assustadora. Possuía longos chifres, pele escamosa, olhos vermelhos e um cheiro horrível. Seus pés e mãos, completamente peludos, eram ossudos e possuíam longas unhas negras. A criatura fixou seus olhos fumegantes e tenebrosos na menina. Ao mesmo tempo, Cristiane olhou para a porta e pensou em fugir. Mas Cristiane foi impedida pelas grotescas e bizarras criaturas da mansão, que se materializaram diante de seus olhos. Lágrimas de desespero começaram a brotas de seus olhos. Estava apavorada e percebeu que não conseguia gritar. Sua garganta havia ressecado e as suas cordas vocais congelado. O frio aumentou e suas pernas deixaram de obedecê-la. Seu corpo, como se estivesse hipnotizado, levantou-se da cama e parou no meio do quarto, diante da demoníaca figura. Parecia um ser vegetativo que ouvia e não tinha vontade própria. A criatura diabólica queria que a menina sentisse todos os medos e pavores daquele momento. E esse havia se tornado o maior de seus pesadelos naquela tenebrosa noite.
Lentamente o espectro demoníaco envolveu Cristiane com sua névoa gélida. Aos poucos a imagem dos dois foi se desmaterializando aos olhos dos tenebrosos expectadores da antiga mansão. Seus rostos, em adiantado estado de decomposição, observavam com curiosidade cada segundo. Alguns, com suas risadas além-túmulo, ecoavam pelo quarto toda sua alegria em acompanhar toda aquela cena, pois o mesmo já havia acontecido com eles. E, como estavam, agora, como meros espectadores, ao invés de sofridos protagonistas, podiam sentir a alegria que outras almas da escuridão sentiram no instante em que perderam suas vidas.
Como que por milagre, um último suspiro surgiu da boca de Cristiane antes que seu corpo desaparecesse por completo.
—Mamãe! Papai! Me ajudem, pelo amor de Deus!
O espectro, enfurecido, olha no fundo dos olhos da menina e diz:
—Infelizmente Deus não pode te ajudar agora, menina. Mas se você realmente acredita nele, por quê será que ele te deixou comigo para sofrer?
Assustada, Cristiane pergunta:
—O quê você vai fazer comigo?
Cinicamente, e acompanhado de uma gargalhada infernal, o espectro responde:
—Você não recebeu uma visita ontem à noite do seu amiguinho na outra casa?
Cristiane pensa, franze a testa e diz:
—O “moço do vento”?
—Sim! Esse mesmo! Mas parece que aquele traidor não conseguiu impedir que você chegasse até mim. Então tenho o prazer de lhe dizer que, a partir de agora, você será minha escrava e satisfará todos os meus desejos.
—Não! —gritou Cristiane, inutilmente.
Em seguida os dois desapareceram deixando um rastro de névoa no ar.
Dentro do quarto as almas, tenebrosas e sem esperança de voltar para a luz de Deus, mantinham-se paradas no mesmo instante em que observaram o que havia restado de mais uma vida que desaparecia lentamente no ar.
Enquanto as almas agonizavam no inferno, pôde-se ouvir, durante toda a noite, a presença de uma coruja negra. Esse era o sinal de que mais uma missão havia sido cumprida perante as leis da amaldiçoada mansão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário